quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O Vegetarianismo é o Novo Prius*

Carro híbrido dirigido por Di Caprio*

Publicado sábado, 20 de Janeiro de 2007 no Huffington Post

Nota do Editor(**) É importante lembrar que mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa brasileiras são resultado do desmatamento e das queimadas na floresta amazônica. Conseqüentemente é preciso reconhecer os motivos da destruição: o comércio de madeira, as pastagens e o plantio de soja.

Por Kathy Freston
Traduzido por Clarissa Taguchi(**) publicado no Guia Vegano

O presidente Norte Americano, Herbert Hoover, uma vez prometera “uma galinha em cada panela e em um carro em cada garagem.” Com avisos sobre o aquecimento global alcançando níveis assustadores, muitos estão repensando os resultados que englobam tais carros. Mas parece que deveriam, preferivelmente, se preocupar sobre as galinhas.

Mês passado, as Nações Unidas publicaram um relatório sobre animais de criação e o meio ambiente, chegando a uma conclusão perturbadora: “O setor de criação de animais emerge entre um dos dois ou três maiores contribuintes dos piores problemas ambientais, e isso em qualquer escala, seja global ou local.” O estudo mostra que a criação de animais para alimentação é uma das causas principais da degradação do solo, da poluição do ar, da falta de água, da poluição da água, da perda do biodiversidade e ainda, do aquecimento global.

Isso mesmo, aquecimento global. Você já ouviu a história provavelmente: as emissões de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono, estão mudando nosso clima. E os cientistas advertem para a chegada de um clima mais instável, extremo, com possibilidade de inundações, de epidemias e de extinções maciças. A conclusão é que se pudéssemos sair por um tempo e voltar, nos questionaríamos o que aconteceu com o inverno e imediatamente pensaríamos no que servimos para o jantar à noite passada.

O relatório das N.U. diz que quase um quinto das emissões para o aquecimento global vem dos animais de criação (isto é, daquelas galinhas que o Hoover se referia, mais os porcos, o gado, e outros) – isso significa mais emissões de gases do que todo o transporte do mundo combinado!

Por uma década, a imagem de Leonardo DiCaprio circulando em seu carro híbrido Toyota Prius, ajudou a definir um padrão de excelência para o ambientalismo nos EUA. Estes veículos transformaram-se num símbolo verdadeiro do poder dos consumidores em se engajar numa solução com relação ao aquecimento global. Pensando apenas: um carro podendo cortar as emissões de veículos ao meio - em um país responsável por 25% das emissões de gás totais do efeito estufa no mundo. Com os padrões federais do setor de energia perdendo força no Congresso Norte Americano, e na milhagem média percorrida por veículo em seu nível mais baixo nas últimas décadas, o Prius mostrou aos Norte Americanos que uma outra maneira é possível. Porém, a Toyota não pode importar carros tão rapidamente para abastecer a demanda.

Ano passado pesquisadores da Universidade de Chicago colocaram o caso do Prius como referencia de um estudo quando viraram sua atenção a uma outra mercadoria geradora de gás. Perceberam que tratar animais para obtenção de carne, leite e ovos, requer o consumo de algo como dez vezes mais do que necessitaríamos ao comer o que a primavera oferece, nuggets falsos de galinha, e os outros alimentos vegetais.

Além disso, ainda temos que transportar os animais aos abatedouros, abatê-los, refrigerar suas carcaças, e distribuir sua carne refrigerada através de todo o país. Produzir uma caloria de proteína de carne significa queimar mais de dez outras calorias de proteína vegetal, em combustíveis fosseis – e ainda derramar dez vezes mais dióxido de carbono na atmosfera.

Os investigadores perceberam com a conta acima que o americano médio faz mais para reduzir as emissões de aquecimento globais através do vegetarianismo do que comprando um Prius.

Estudo diz que pecuária desmata a Amazônia, e não a soja

Cibelle Bouças e Bettina Barros para Valor

É a pecuária, e não a soja, a maior responsável pelo desmatamento na Amazônia. É isso o que diz um estudo divulgado pelo Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF) e que vai ser utilizado como base pelo Ministério da Integração Nacional para definir o planejamento territorial na região.

"A gente fica batendo na tecla errada, esquece o efetivo responsável e acaba adotando políticas públicas erradas", afirma Julio Miragaya, autor do estudo e coordenador-geral de Planejamento e Gestão Territorial (CGPT), ligado ao Ministério da Integração Nacional. "O fantasma da Amazônia não é a soja, é a pecuária".

O economista, que escreve sua tese de doutorado sobre o papel da pecuária na ocupação da Amazônia, revela que um projeto de lei será encaminhado até outubro para o Congresso Nacional. A intenção é criar áreas de zoneamento determinando onde será permitido a criação de gado. "Terá de ser uma política de Estado e não de governo, senão não dará certo", diz ele.

Com base nos dados da produção de pecuária municipal do IBGE, o documento afirma que 34,667 milhões de hectares da Amazônia foram ocupados com pecuária entre 1990 e 2005. Outros 5,405 milhões foram ocupados com soja, seguida por milho (930 mil hectares), arroz (508 mil) e algodão (432 mil).

Nesse período, o Brasil registrou um aumento expressivo de 40,8% de gado bovino no seu rebanho. Das 60,05 milhões de cabeças, nada menos que 80,5% se deram nos nove Estados que compõem a Amazônia Legal.

Miragaya salienta que o avanço do plantio de soja em áreas que antes eram ocupadas pela pecuária, sobretudo no Centro-Oeste, forçou o avanço do gado para as áreas amazônicas. Esse efeito indireto, segundo ele, teria sido equivalente a 4,62 milhões de hectares (ou 15% das áreas utilizadas para o agronegócio).

A conjuntura internacional foi determinante para esse movimento. Grandes exportadores de carne bovina estão encurralados, diz o economista, cuja tese de doutorado é sobre o papel da pecuária na ocupação da Amazônia. Ele cita como exemplos Austrália, Argentina e EUA. O denominador comum é a limitação de terras disponíveis para o avanço do gado, no momento em que soja e milho ganham importância nos mercados internacionais.

"Ao contrário dos nossos concorrentes, o Brasil tem terras demais. E para onde o gado está indo? Para a Amazônia, enquanto nas demais regiões do país os rebanhos estão em declínio", diz.

É o que se conhece como movimento de "subida do boi". Expulsos por culturas mais rentáveis do sul, sudeste e centro-oeste do país, os rebanhos bovinos encontraram na região amazônica condições ideais para crescer: terras baratas (em muitos casos griladas), solos e clima impróprios para lavouras em algumas localidades. A falta de infra-estrutura, indispensável para as grandes plantações de grãos, é outro fator que explica esse movimento.

Rondônia e Acre registraram em 15 anos o crescimento mais acelerado na criação de boi na Amazônia Legal - 560% e 478%, respectivamente. Mato Grosso e Pará incrementaram suas criações em 200%, cada um. Amazonas, Tocantins e Maranhão foram os únicos que registraram expansão de pecuária abaixo dos 100%, no período de 1990 e 2005.

"Quase todo esse crescimento foi puxado pelas exportações", diz Paulo Barreto, especialista em cenários de ocupação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Segundo ele, no início dos anos 90 eram exportados apenas 5% de toda a produção nacional de carne bovina. Em 2006, os embarques representavam 25%.

O estudo mostra que o impacto da soja ainda é bastante limitado em relação ao desmatamento provocado por outros setores do agronegócio. "Não é a pecuária a responsável pela invasão na região amazônica. Falta na região um melhor controle do direito de propriedade. Muitas das propriedades não têm título e é isso que gera a disputa pela terra e fomenta a invasão de áreas", afirma Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Para ele, no entanto, não há necessidade de se criar um zoneamento por culturas da região amazônica. "O próprio mercado decide se vale a pena plantar ou não", diz, citando como referência a moratória da soja assinada pelas indústrias esmagadoras, que se comprometeram a não comprar grão produzido em áreas desmatadas do bioma amazônico.